Entrevista: Axecuter – Mostrando O Poder Do Underground Nacional


Sem modismos, sendo Old School e lutando pelo verdadeiro Heavy Metal se você não conhece a banda Axecuter, então ai está uma boa oportunidade, pois o que menos interessa a está banda são as tendências e a única coisa que importa para eles é o verdadeiro Metal. Tivemos o prazer de conversar com o baterista Chrys Baphometal que nos conta um pouco da história da banda, sobre o que é ser realmente underground da receptividade de seu 1° EP “Banger’s Previal” originalmente lançado em fita K-7 (resenha em breve) entre outros assuntos.

Então chega de enrolação, com vocês Chrys Baphometal: 

Heavy And Hell: O Axecuter surgiu em meados dos anos 2000, com uma proposta de som bem Old School, não se preocupando com rótulos, conte-nos um pouco da trajetória da banda até seu momento atual.


Chrys Baphometal: Antes de tudo, saudações a todos! Bom, eu e Danmented (Guitarra e Vocal) somos velhos amigos, nos conhecemos há mais de 20 anos e conhecemos T.Basstard (Baixo) há dez anos. O Metal sempre foi e ainda é algo que nos mantém unidos, uma espécie de elo. Em 2000 costumávamos nos reunir com outros amigos em comum pra assar carne, beber, falar besteira e ouvir som. Fazíamos algumas “jam sessions” onde cada um tocava um pouco de cada instrumento, guitarra, baixo, bateria, só por bagunça mesmo. Alguns sons próprios e covers como “The Burning Of Atlanta” (Whiplash), “Die Hard” (Venom) e “Hellion" (W.A.S.P.) eram sempre tocadas. Dez anos depois, tive a ideia de gravar nossas músicas num estúdio profissional de boa qualidade, só pra nós mesmos, como uma lembrança daqueles tempos. Danmented e T. Basstard toparam e o resultado ficou ótimo. Mostramos estas gravações para alguns amigos, que nos incentivaram a montar uma banda de verdade, pois segundo eles, temos um bom potencial.

Sobre rótulos, esse é um assunto meio complicado, pois no nosso caso, creio que não temos um rótulo específico. Somos um trio que executa um Metal cru e ríspido, nos moldes dos anos 80, fortemente influenciado por trios como Venom, Exciter, Tank, Motörhead, Killer, Manilla Road, Destruction, Sodom, Warfare, Raven, enfim... A vertente mais selvagem e rústica do Metal, um tanto quanto esquecida nos dias de hoje. Alguns nos classificam como “Thrash”, mas penso que isso não se aplica a nós com exatidão. Nosso logotipo não tem aquelas típicas pontinhas thrash, não usamos tênis “pride”, nem boné aba reta com o logo do Anthrax, nem jaquetas com patches de D.R.I, Xentrix, Nuclear Assault, S.O.D., Testament, Overkill, etc... Só pra ilustrar um pequeno exemplo. Nossas letras não falam sobre desastres nucleares, armas toxicas nem nada do gênero. Claro que o Thrash Metal não se limita à um estereótipo, mas definitivamente não somos este tipo de banda. Algumas de nossas músicas são velozes, mas sem ser exatamente Thrash. Se for pra rotular, acho que temos mais a ver com aquele “Speed Metal” da primeira metade dos anos 80, algo mais na linha do Venom e Exciter antigos, em sons como “Witching Hour” e “Sudden Impact”, algo nessa linha.

Heavy And Hell: Vocês retornaram a ativa no ano de 2010 e lançaram em 2011 o EP “Banger’s Previal” que saiu em fita K-7 e em formato digital, como surgiu está ideia de lançar o EP em fita K-7?

C.B: Legal que você percebeu que trata-se de um EP e não uma “demo” aha! Só pra esclarecer, nosso conceito pessoal de “demo” refere-se à uma gravação 100% independente que objetiva o contrato com um selo. Claro que existem álbuns completos de longa duração que também são independentes, e não é “demo”. Se o cassete foi lançado justamente por um selo, não seria “demo”, certo? A ideia do K7 foi do proprietário da Infernö Records, Fabien Pinneteau. Mostramos nossas músicas pra ele e a aprovação foi imediata. Foram prensadas cem cópias, e já estão esgotadas. Tudo foi feito com bastante profissionalismo e qualidade, desde a prensagem até a divulgação em si, excelente. Estamos plenamente satisfeitos com o trabalho dele e esperamos que essa parceria continue por muito tempo.

“Bangers Prevail” foi recentemente relançada pelo selo chileno Canometal Records, também com prensagem limitada de cem cópias. Nesta edição a arte da capa e do encarte são diferentes da original, e vem com uma música a mais, nossa versão para “Dominios Of Death”, do Vulcano. Nesta música, procuramos uma produção bem crua, próxima da original. Mantivemos até os erros de inglês de propósito, pra ficar legal. A única coisa que “consertamos” foi o tempo da guitarra com relação à bateria.

Heavy And Hell: Falando ainda sobre “Banger’s Prevail” realmente temos uma sonoridade calcada nos anos 80, com um Heavy Metal bombástico que nos remetem aos anos dourados do Heavy Metal, o que podemos esperar para o próximo lançamento da banda? A sonoridade irá continuar nestes moldes? 

C.B: Nosso próximo lançamento será um álbum com 11 faixas, que já está praticamente finalizado. Restam apenas alguns ajustes técnicos na mixagem final e na masterização. A parte gráfica, encarte, layout também já está pronta, definida. Será prensado na Europa e lançado pela Infernö Records, assim como foi o K7. Sim, a sonoridade será a mesma, só que num nível acima. O lado rústico e áspero faz parte da nossa identidade musical, está intrínseco e não pode ser alterado. Posso garantir que o resultado final continuará fiel à nossa proposta inicial, que é ajudar a manter vivo o espírito do Metal antigo, longe de influências modernas. 

As três músicas do EP estarão presentes no álbum, com uma sonoridade mais forte e mais potente, com mais “pegada”, mantendo o feeling original. Além destas, teremos outras sete no mesmo nível, ou até melhores! Das dez, quatro faixas serão rápidas na linha Speed/Thrash, outras quatro um pouco mais cadenciadas e duas mais lentas. Será um disco bem variado e não enjoativo, daqueles iguais do início ao fim.  Nesta primeira prensagem também teremos um cover de uma grande banda dos anos 80 como “bonus track” e um convidado especial surpresa. Será nossa sincera homenagem à um dos ícones do estilo.


Chrys Baphometal
Danmented
T. Basstard
Heavy And Hell: Como não é novidade para ninguém tocar Metal Extremo no Brasil nunca foi uma tarefa fácil, vocês que já estão há anos no cenário nacional, como vocês lidam com essas adversidades? Ainda mais que temos um underground muito competitivo.
C.B: Como você disse lutar contra as adversidades deste meio nunca foi não é e nunca será fácil, ainda mais no Brasil. Creio que a principal arma é ter profunda dedicação e identificação com o que se faz, só assim pra aguentar a barra. Estar numa banda não é algo simples. É preciso muito talento, autoconhecimento, dispor de tempo, estudo, promoção, carisma, persistência e algum dinheiro pra criar algo relevante, de impacto. Muitas bandas não conseguem obter destaque justamente pela falta destes ingredientes, e acabam desistindo.
No nosso caso, o trunfo é que fazemos nosso som por prazer, por satisfação pessoal, sem buscar algo maior. Se nosso objetivo fosse enriquecer ou ser famoso, já teríamos desistido há muito tempo. Conhecemos bem a realidade do underground, por isso mantemos os pés no chão. Não queremos ser a sensação do momento, nem estar na lista dos melhores do ano nas revistas “especializadas”. Tudo que queremos é divulgar nosso som para aqueles que se identificam compartilhar nossa paixão com outros iguais a nós. Mas isso não significa fazer “nas coxas”. Procuramos fazer tudo que envolve a banda da melhor forma possível, desde músicas, letras, execução, presença de palco até o lado visual/estético. Somos muito minuciosos e perfeccionistas, pensamos em tudo! É possível ter mentalidade “profissional", mesmo estando no underground.
Nosso underground é bem competitivo sim, mas creio que muitas das nossas bandas ainda ficam devendo, principalmente do que se refere à qualidade musical. A maioria são genéricas, cópias uma das outras. Veja por exemplo este “boom" de bandas “Thrash" que ocorreu nos últimos anos. É uma verdadeira epidemia! Dá pra contar nos dedos as que são realmente relevantes, que tem identidade própria, que investem em criar um material de qualidade com boas músicas. As demais vão pela curtição, pelo embalo, só fazem número.
Heavy And Hell: E sobre a cena nacional em geral, vocês acham realmente que o Heavy Metal morreu no Brasil, como “muitos” estão dizendo por ai?
C.B: Cara é muito complicado falar sobre isso, pois o assunto é muito amplo, envolve muitas variáveis e pontos de vista diferentes. É impossível chegar à uma conclusão definitiva e irrefutável. Costumo encarar esta questão usando dois pontos de vista, o lógico e o passional. Pelo lado lógico/racional, dá sim pra afirmar que existe Metal no Brasil, por pior que seja nossa realidade. Temos sites e revistas especializadas, lojas de CDs, casas de shows, bandas, bares, promotores de eventos, etc. Além disso, obviamente há o público consumidor. Se a qualidade/quantidade do público é boa ou ruim, aí é outra história. Não é como, por exemplo, em países como Djibuti ou Butão, onde não deve existir literalmente nada relacionado ao Heavy Metal.
Agora, vendo pelo lado passional, creio que o Metal (de verdade) de uma forma geral e não só no Brasil, foi deixado de lado. Mas ainda sobrevive nos porões do underground, graças à dedicação de poucos aficcionados. Estamos rodeados por todo esse lance melódico, gótico, nu, core, alternativo, que não tem ligação alguma com a verdadeira essência do estilo. Na Europa há festivais e eventos dedicados exclusivamente ao real Metal como Keep It True, Headbangers Open Air, etc. Algo nessas proporções raramente acontece aqui no Brasil, uma pena.
Vendo por este prisma, por aqui não existe Metal. Mas isso não é de todo ruim, pois se virar algo popular vai acabar banalizado. Imagine camisetas e discos de bandas como Leather Nunn ou Ion Britton sendo vendidos em shopping centers! Qualquer um poderia comprar e se considerar “fã”. Acho que o verdadeiro Metal está no lugar certo onde só os iniciados tem acesso, bem longe dos curiosos.
Heavy And Hell: O Axecuter já tem planos de lançar um novo material?
C.B: Sim, temos planos de lançar, além do CD, um novo EP também no formato K7 e talvez um vinil de sete polegadas, ambos para 2012 ou início de 2013. Estes projetos ainda não estão 100% certos, pois dependemos de alguns acertos com os selos responsáveis. Mas as coisas estão se encaminhando bem, acho que vai dar tudo certo.
Heavy And Hell: Em mundo que esta se “virtualizando” a cada dia, muitas bandas estão lançando seus álbuns em formato digital gratuito na internet e em muitos casos o álbum acaba não ganhando formato físico, o Axecuter já pensou nesta possibilidade de lançar seus materiais somente virtualmente?
C.B: Nunca, jamais! Esta é uma possibilidade 100% descartada dentro do Axecuter. Nossa proposta é ajudar a resgatar o antigo espírito, em todos os sentidos. Lógico que o som é a peça mais importante da engrenagem, mas o material físico é indispensável. Nosso som é direcionado para o pessoal que cresceu em lojas de discos e sebos, aqueles que nos anos 80 trocavam fitas pelo correio e ficavam contando os dias pra receber o pacote na caixinha do correio. Gosto de pegar um disco da minha coleção e ouvi-lo lendo o encarte, apreciando a capa, este tipo de detalhe. Pra nós é algo natural, crescemos dessa forma. Todos os futuros trabalhos do Axecuter serão disponibilizados nos formatos físicos, seja em CD, vinil ou K7.
Esse lance todo de “downloading” é algo muito frio, mecânico e sem vida. Hoje em dia as pessoas, ainda mais as novas gerações, se relacionam de forma muito superficial com a maioria das coisas, não há um envolvimento maior, mais intenso e especial. No passado era diferente. Quando uma banda lançava um disco existia toda uma expectativa em torno, você ia até a loja, comprava a “bolacha", levava pra casa e ouvia sem parar. Quem tinha disco importado então, era reverenciado como um Deus! As coisas eram mais difíceis naqueles tempos, mas a “magia” existia, e era quase tangível. Tudo bem, a realidade do mundo virtual está aí, não tem como fugir. Mas é preciso saber usar esta ferramenta com bom senso e inteligência, sem partir pra banalização. A internet é um excelente veículo pra divulgação das bandas, aproxima pessoas e acelera contatos em qualquer parte do mundo. Agora, depender 100% disso é besteira, não há sentido.
Heavy And Hell: Como está sendo a recepção de “Banger’s Previal” por parte dos fãs e da mídia especializada?
C.B: Tem sido ótima, especialmente na França, Alemanha, Grécia, Suécia e em alguns países latinos como México e Chile. Temos recebido vários e-mails de pessoas destes lugares comentando e elogiando nosso trabalho, pois são regiões onde o Metal “old school” é bem forte. A receptividade aqui no Brasil também está legal, mas bem menor do que lá fora. Talvez porque o nosso tipo de som seja visto pela maioria daqui como algo ultrapassado, arcaico. Muitos aqui falam que deveríamos nos modernizar “abrir a mente", esse tipo de coisa.
Temos sido bem recebidos também nos shows, onde o público está comparecendo bem, sempre dentro da nossa realidade, obviamente. Bandas como Comando Nuclear, Nosferatu, Clenched Fist, Axecuter e outras são a minoria resistente aqui no Brasil, que vai contra o que é “imposto” pela grande mídia. Não somos os “nice guys”, os carinhas bonitinhos populares com furinho no queixo. Pertencemos ao lado maldito e sombrio, que não se curva frente às modas. Somos como aqueles peixes da zona abisso pelágicas sem contato algum com a superfície e vivendo no isolamento, na total escuridão.
Heavy And Hell: Quais os próximos passos da banda para este ano de 2012?
C.B: Concretizar o lançamento do CD, fazer mais shows e continuar divulgando a banda para os que compreendem e apoiam nossa proposta. Também pretendemos colocar no ar dois videoclipes que acabamos de fazer, criar nosso Web site (finalmente), atualizar Myspace, Facebook, essas coisas. Além disso, como foi dito anteriormente, planejamos um novo single K7 e um vinil de sete polegadas. Tudo isso ainda para 2012, espero.
Heavy And Hell: Para finalizar, gostaria de agradecer pela ótima entrevista e deixo o espaço final a vocês.
C.B: Primeiramente quero agradecer a você Renato pelo espaço e pela entrevista, foi um prazer! Promotores de shows, webzines e revistas que tiverem interesse em nos contactar, é só escrever. Responderemos à todos. Também agradeço à todos os reais “die hard” old school headbangers que tem nos apoiado, comprando nosso material e indo aos shows. Todo nosso empenho é dedicado à vocês. Ouçam nosso disco e se gostarem, comprem o original! Mas se preferirem baixar só pra não ter que gastar tudo bem também... Foda-se o dinheiro, aha!!! Abraço a todos!!!

Conheça mais a banda:Email: axecutermetal@hotmail.comFacebook | MyspaceGravadora: Inferno Records
Confira os novos clipes para as músicas: "Too Heavy To Load" e "Banger's Previal".



Entrevista por: Renato Sanson
Edição & Revisão: Renato Sanson / Alexandre FerreiraFotos: Axecuter

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